VAMOS SENTIR DE PERTO A LÍNGUA EM MOVIMENTO

A fala é o foco para a percepção do balanço da língua. De todas as coisas que expressamos oralmente, somente uma ínfima parte é apreendida pelos dicionários e, acreditem, muitas estão destinadas a um obscuro repouso... é isso mesmo! ao asilo das palavras. Não adianta querer ressucitar defunto, dizendo que o latim não morreu, que está vivíssimo entre nós ou com roupagens novas. Morreu sim, e está enterradinho da Silva!Está bem, pode até ter reencarnado, mas ganhou nova identidade... e nova alma! A língua viva está em movimento, na boca do povo, como dizia o saudoso Souto Maior. Pergunto: A esse uso, chamaremos ERRO? Talvez DESVIO? No uso, ela transforma-se e podemos chamar isso de VARIAÇÃO!

domingo, 22 de maio de 2011

POR UMA VIDA MELHOR - A LÍNGUA EM USO

Quanta balbúrdia em torno da publicação recentemente aprovada pelo MEC, POR UMA VIDA MELHOR, de uma corajosa que dedica um capítulo na obra à variante popular! Puristas que se benefeciam da imposição da norma padrão e, pior, jornalistas que contaminam as mentes desavisadas quanto à variação linguística com inverdades como, por exemplo, que a obra ensina aos menos favorecidos economicamente a aprenderem variante popular e não a culta. Bem respondeu a autora ao declarar que "não se pode ensinar o que já se sabe". Quem precisa conhecer essa variante são os supostos usuários da norma padrão. Como esse aluno vai aprender novas competências sendo constrangido a falar em uma variante que desconhece? Segundo informa a Associação Brasileira de Linguístas (ABRALIN), o livro está estruturado conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que cerca de dez anos já orienta para que os livros didáticos incluam a discussão da variação linguística.
O que revolta a nós linguistas são as declarações espúrias da mídia que, a serviço da elite, nada entende sobre estudos variáveis, sequer leram a obra, baseando-se em algumas frases com marcas do uso popular, que foram repetidas nos comentários dos que se beneficiam com o Português padrão. No capítulo da obra em questão, POR UMA VIDA MELHOR, não se esquiva de mostrar ao aluno que o prestígio das formas linguística está diretamente relacionado aos falantes de estratos sociais mais elevados e que conhecer a norma de prestígio, ou como se convencionou chamar, norma culta é importante por causa da ascensão social. A autora só que passar para os seus alunos que não há nenhum caos linguístico, mas regras que regulam os diferentes usos. Cabe dizer ainda que a língua não se inferioriza quando admite estrangeirismos e os abrasileira, em nosso caso, em que o Bantu influênciou. Quando pluralizamos de duas formas diferentes, uma delas, a formal segue a regularidade da escrita, por exemplo: a mesa; a outra forma de pluralizar é dizer as mesa, mas não há quem diga a mesas, pois o que se faz segue a regras reguladoras do uso, e não inclui o plural seguido do artigo no singular. Muitas vezes, trata-se de influência de outras línguas... como foi o caso no Brasil, cuja influência africana no Português foi predominante, em que o plural é suficiente no primeiro termo. Nesse caso, entendemos que o Português é redundante.
É do conhecimento geral que a língua muda com o tempo, o que ninguém quer dar "cabimento" é que a variação é o primeiro passo para a mudança", embora todos os usuários da língua se comuniquem mediante variações linguísticas em todos os níveis da linguagem e nos eixos diatópicos (geográficos), diastrático (social) e diafásico (discurso individual).
Para finalizar, cabe deixar claro que ignorante não é o usuário de formas linguísticas de menor prestígio, mas os que levantam discussões infundadas sobre temas que desconhecem como inferimos das últimas palavras da Abralin a seus associados: "As formas linguísticas de menor prestígio não é indício de ignorância ... a ignorância não está ligada às formas de falar ou ao nível de letramento. Aliás, pudemos comprovar isso por meio desse debate que se instaurou em relação ao ensino de língua e à variedade linguística".
Aguardo questionamentos.